quinta-feira

rabiscos leoninos

Vou escrever frases que não terão sentido e concordância verbal correta. Sem me importar com quem vai ler ou as conclusões que irão tirar. Serão apenas uns rabiscos leoninos em um papel que poderia ser colocado, posteriormente, no fogo.
Eu queria uma bolha pra morar, assim eu poderia me esconder das falsidades, dos problemas, das confianças em excesso. Eu poderia me esconder de tudo e assim seria realmente mais fácil. Não haveriam essas lágrimas que agora caem, nem essa raiva que agora me faz querer jogar vidros na parede.
Não quero sentar na tua frente e despachar toda a tristeza que está guardada, mesmo que seja um plano para eu me sentir melhor. Tenho medo do que pode acontecer, e acabo guardando todas as lágrimas gerando uma enorme dor em mim. Perco o sono, a fome, a vontade de sorrir.
Que seja como tem que ser, que tenha pratos quebrados, papéis rasgados, gritos e xingamentos nas conversas. Mas que seja a última vez, que seja para acabar com o sofrimento e com qualquer outra coisa, mas que seja o que tem que ser. Que seja bom ou ruim, mas seja.
Cansei de ficar em uma situação que é um muro que me impede de ver, uma máscara que me impede de falar. Uma situação que me impede de demonstrar a falta que faz uma conversa, um abraço amigo.
Só te peço que seja, bom ou ruim, que seja de uma vez e acabe com a dor.

quarta-feira

ainda há tempo

Eu acendi um cigarro para ver a cinza se formando no filtro que queima; para mim os acontecimentos são como este cigarro: se não houver quem acenda, ficará esquecido em uma prateleira empoeirada.
Enquanto isso, eu só queria conseguir dar procedimento ao que quero falar, mas já é a oitava ou nona vez que eu apago e recomeço a escrever. Das duas uma, ou não há vocabulário suficiente para eu me expressar ou é pensamento demais para concluir.
Existem tantos questionamentos, tanta peça que não encaixa. Esse quebra-cabeça está difícil demais de ser construído, estou sozinha e preciso de ajuda. Sozinha com a dor que vira rima e lágrima que vira linha. Onde tu estás quando eu preciso?
É difícil não poder ligar, mandar uma mensagem, saber como foi o dia; mas é fácil esconder a tristeza mascarada com alegria.
Cigarros irão encher meu cinzeiro se eu permanecer tragando essas dúvidas, em uma quarta-feira que poderia ser como as da primavera passada, mas não serão. Você não tocará o interfone e não sentará no sofá para apreciar o céu azul. Eu não ouvirei o doce som da sua voz e você não tocará o suave tom da minha pele.
Cigarros são acesos e apagados, assim como paixão que começa e acaba.

terça-feira

meu rei de copas

Eu olhei no relógio e eram três horas, corri para não chegar atrasada achando que eu receberia um abraço para sufocar a saudade e um beijo para alimentar a semana; mas havia uma muralha separando a saudade dos erros, havia uma distância enorme mesmo que ele estivesse na minha frente.
Agora são vinte horas e eu grito, grito, grito. Ninguém pode me escutar ou secar minhas lágrimas, porque eu estou sozinha em um quarto onde a única luz existente vem na tela do computador, o único barulho é da música que insiste em ser a mesma há duas horas.
Nosso amor envelheceu um ano e um mês. Morreu de velhice ou foi parar em uma cama na uti? Não importa onde esteja, simplesmente não está mais aqui; foi embora sem passagem de volta. Deixou só as recordações, o que não seria estranho, afinal, somos o que recordamos. Vou ser sorrisos, manhãs de preguiça, pulos no colo, carinhos pra dormir; serei um domingo na grama, uma quarta no cinema, uma sexta com os amigos; serei o seu abraço protetor, o seu beijo conquistador, a mão dada guiando. Serei as lembranças de um ano que passou. Espero ser coisas boas nas tuas lembranças e não as lágrimas que um dia caíram quando tua última palavra foi: desculpa.