sexta-feira

sem flash, por favor.

Sentada em um desses panos quadriculados e coloridos, típicos para piquenique. A diferença é que o gramado só pertence a mim, sem guloseimas e pessoas para dividir o momento e uma suposta felicidade. No céu, as nuvens deixam o dia sem sol; nublado como meus pensamentos.
Aproveito o momento para ver fotografias feitas pela minha mente, fotografias que só eu verei; lugares e pessoas registrados em uma mente que tem sede de amor. Amor com açúcar, para ser mais doce; amor com pimenta, para ser mais quente; amor com café, para tirar o fôlego; apenas amor.
Posso visualizar sorrisos bobos, olhares tímidos, mãos dadas, uma blusa no chão, uma luz por baixo da porta. Passado registrado para poder ser recordado em qualquer horário do dia, enquanto vejo este gramado em um belo dia cinza. Afinal, dias cinzas também podem ter beleza. Recordo a beleza nessas fotografias tiradas em dias ensolarados, em noites chuvosas, em madrugadas longas e curtas; nas palavras anotadas também na minha mente. Palavras com cores, para serem vivas; palavras com texturas, para serem sentidas; apenas palavras.
Visualizo tudo que não existe no presente em um fechar de olhos, com o amor que ainda vive aqui.

segunda-feira

ponto de exclamação

Dezenove horas de um dia qualquer, a história se repete: a porta se fecha e as lágrimas caem. É cortada a linha que se estende pelo amor, só resta o vazio.
você se apaixona duas vezes pela mesma pessoa e vê duas vezes o mesmo fim.
são pontos finais ou reticências?

sábado

até que a vida os separe

Isopor quando quebra faz uma sujeira só, mas você pode colar com uma cola para isopor e pronto: está novo. Porém, você notará que ali há uma rachadura colada, uma falha no caminho ou qualquer coisa do gênero; nada que estrague sua maquete da escola. Agora imagine sua família como um pedaço de isopor. Chocante pensar como tal, mas pense também nas brigas que ocorrem e no modo como colamos a família de volta quando ela se quebra.
Conquanto nossos pais jurem ser felizes na alegria e na tristeza, sabemos como isso não acontece. Não é com a minha família, nem com a da minha melhor amiga; isso acontece na grande maioria da população. Não sei se isso é coisa do século XXI ou, hoje, é apenas mais exposto que antigamente. Mas não há nada pior que ver o isopor quebrar e não saber onde está a tal cola para arrumar. É horrível ver que seus pais brigam entre eles, que você briga com seus irmãos, que seus pais brigam com você e com seus irmãos. Sei que brigar é mostrar que existe importância um com o outro, que acontece até com os amigos, que são só casos de família. Aquele ditado de que família só muda de endereço, é real. A única coisa que pode variar de endereço para endereço é a intensidade. Meus pais podem brigar menos que os pais da Maria e os pais dela podem brigar menos que os pais do João. Isso acaba?
Neste momento chego ao ponto: quantas vezes um isopor aguenta ser colado e permanecer firme? Alguns não permanecem, outros sim. Depende da cola ou da vontade da pessoa em insistir na colagem? Eu não saberia responder, deixaria a dúvida para cada um ter sua resposta. E nesse instante alguns poderão me responder que família foi feita para lutar e enfrentar qualquer problema até o fim; outros poderão me dizer que uma hora o copo transborda, se racha, os pratos são jogados na parede e um papel é assinado para solucionar os problemas. Solucionar? Eu diria “fugir”, com um tom convicto e firme. Não vale a pena deixar anos de alegria por causa de uma fase ruim. Ninguém deixa de surfar porque um dia as ondas estavam ruins, ninguém deixa de comer doce porque um dia comeu um que não lhe agradou, ninguém deixa de ler um autor específico porque um livro entre quinze não tinha o assunto que queria.
Isopores são fáceis de quebrar, assim como famílias são fáceis de abalar. Famílias são feitas de sentimentos, como isopores são feitos daquelas minúsculas bolinhas que fazem uma sujeira na sala. A diferença é que os sentimentos não podem ser colocados no lixo e levados para a reciclagem, eles devem ser mantidos e levados mais a sério. A diferença é que na maqueta da escola você pode ouvir a opinião alheia para modifica-la, mas na sua família você deve ouvir apenas a sua vontade e da sua família, porque querem o bem dela mesma; esqueça os outros. Queria que os pais entendessem isso, queria não ouvir minha melhor amiga dizendo que seus pais não estão se falando, queria não ter razão para dizer para minha melhor amiga que meus pais enviaram os sentimentos para a reciclagem.

domingo

70% de água, 30% de quê?

Uma garota que usa o papel e a caneta como refúgio. Que usa o travesseiro como diário. Ela que usa all star e calça jeans como um uniforme, apenas por ser confortável e prático para o dia-a-dia. Que anda na rua como se o tempo não lhe pertencesse e a música fizesse seu corpo se tornar invisível enquanto caminha. Que vê o mundo com o eterno olhar infantil de quem descobre algo a cada dia. Que sonha em achar a simplicidade de tudo, mas não a encontra em nada.
Esta garota vai ao cinema sozinha, para expressar suas emoções sem ser rotulada. Come salada acompanhando um quilo de massa com molho, e acha que assim vai perder peso. Chora antes de dormir por se achar fraca demais para enfrentar alguns problemas. Almeja um abraço no meio de um sábado qualquer, só para sentir uma proteção inesperada. Toma xícaras de café e consegue dormir doze horas seguidas. Sonha que a chuva apareça quando o sol estiver queimando as flores do jardim.
Uma garota que, como qualquer outra, é sensível uma semana por mês. Que ouve músicas românticas lembrando-se de momentos e pessoas. Que um dia fez corações no quadro da escola, colocando riscos com a quantidade de letras indicativas a algum nome qualquer. Que achava raro encontrar um príncipe encantado, mas encontrou o seu. Que tem ciúmes, medos e amor. Apenas uma garota como qualquer outra, feita de 70% de água, e outros 30% de carne, osso e sonhos.