sexta-feira

quatro cantos

Uma bebida tomada até a última gota. Um caminhar em zig-zag por ruas escuras. Um alívio trocado por um medo de não saber onde é o fim da linha. A felicidade se transmite pelos olhos, a mão treme de desejo, o coração pulsa de vontade. Eu não sei se haverá desvio, retorno ou curva, mas enquanto o movimento for retilíneo eu tenho chances.
A janela fechada, a porta trancada e a luz apagada. O perfume tomou conta da casa, do quarto, da roupa, da pele. O olhar fixo arde a pupila. O abraço forte esmaga os ossos. Estamos presos entre os quatro cantos do mundo. Estamos em um mundo paralelo e escuro.
Eu apenas observei, sem julgar ou aprovar.
Saí e deixei a porta aberta para expandir o ar. Levei comigo apenas as lembranças para guardar dentro da mala. Os sentimentos podem não ter peso na balança, mas as lembranças têm. É o modo de você permanecer comigo independente da distância, das lágrimas que mancharão os papéis que você escreveu algo. Os lamentos não farão diferença depois que eu for embora.
A janela se abrirá, a porta se destrancará e a luz ficará acesa. O perfume com o tempo sairá da casa, do quarto, mas não de mim. O olhar ficará mais real quando eu fechar os olhos.
Eu apenas observei, decorei cada metro dos cantos do mundo, cada centímetro de quem o habitava.
Apenas segui o caminho que foi traçado, sozinha.

segunda-feira

mal-me-quer

as pétalas de bem-me-quer caíram ao chão, para sobrar a realidade.

quarta-feira

mais que ontem, menos que amanhã

Hoje, são dezenove anos de uma vida sem planos concretos. Amanhã, já serão vinte de uma pessoa que viu pouco pôr-do-sol, nunca escreveu um livro, plantou árvores só na escola e não sabe a cor dos seus olhos.

sexta-feira

como seda

Você pode me fazer chorar com palavras, mas não me abrace; pode me fazer rir com piadas bobas, mas não pegue minha mão; pode fazer meu tempo parar com um olhar, mas não me beije.
Não sei se é certo sentar em uma esquina e rir como se não houvessem carros e pessoas passando, não sei se é certo pensar em alguém antes de dormir, não sei o que será amanhã, mas sei que hoje vai acabar e não posso deixar passar em branco; às vezes nem o vento te leva aonde você quer chegar, não é?
Faça com que os momentos sejam pedaços de mundo, feito seda rara, que você toca delicadamente para não estragar. Agarre cada pedaço de mundo que você puder e não se preocupe se as pessoas e os carros passam, sorria sem saber que hora o relógio marca.

domingo

apenas uma dose

Aceitarei cada gota de álcool possível, para me embriagar de falsas esperanças. Falsas como as pessoas que me rodeiam nesse mundo que é do tamanho de uma cereja. Vou beber e sair tropeçando por ruas desconhecidas, do mesmo modo que tropecei nas expectativas. Vou gritar no meio da rua; cantar músicas erradas; tocar interfones e sair correndo; vou sorrir e achar que tudo é bonito, pelo menos enquanto a embriaguez permanecer no meu corpo.
Aceitarei doses de vodka com alegrias, sorrisos, abraços...; doses de tudo que falta em mim.